quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A CONVERSAÇÃO E O APARENTE CAOS NO INTERAGIR HUMANO




                                                                                     Edson Victor Pereira da Rocha Almeida
       Francineide Cerqueira Saraiva



Jô Soares (J)
Elísio (E)
Daniel (D)
Anderson (A)

RESUMO

O presente trabalho procura demonstrar que a conversação não é um fenômeno desorganizado e aleatório, mas que segue um procedimento altamente fundamentado e organizado. Percebe-se também que os envolvidos em uma conversação se utilizam de vários artifícios ou estímulos para tornar uma intenção informativa manifesta e atingir os efeitos cognitivos desejados. Sendo assim quando há uma interação pelo menos um dos envolvidos nessa interação procurará mostrar a relevância do tema tratado e só não o concluirá se houver um momento brusco de mudança de tópico ou se a outra parte mostrar uma total falta de interesse, ou seja, se as intenções do comunicador não mostrar força suficiente (relevância) para atrair a outra parte.

PALAVRAS-CHAVE: Conversação, interação, interlocutores.



1. INTRODUÇÃO


            Este trabalho trata de uma pesquisa que teve sua origem em sala de aula com uma discussão sobre a conversação buscando subsídios na obra de Luiz Antônio Marcuschi intitulada Análise da Conversação. Buscando mostrar que a conversação não ocorre de maneira aleatória, mas que há um sentido e lógica para que ela ocorra. O presente trabalho, consequentemente, mostrará também que não são somente os códigos que estão envolvidos na comunicação, mas todo um aparato é acionado e tem-se que levar em conta toda uma gama de conhecimentos semânticos e pragmáticos que muitas vezes são acionados pelo falante sem que este ao menos perceba.
            Sendo assim há que se observarem, além da questão linguística, também as paralinguísticas tais como: entonação da voz, altura da voz, pausas, inalações audíveis, etc. Desta maneira e muitas vezes pelo contexto percebe-se que a organização existe na comunicação seja ela tratando de um tema de pouca importância ou de extrema importância.

2. Noções de Análise da Conversação

            A Análise da Conversação (AC) surgiu na década de 60 e teve seu olhar voltado para a descrição das estruturas da conversação, permanecendo essa preocupação até meados da década de 70 (Marcuschi, 2003, p.6). Procurando pesquisar e estudar a interação entre as pessoas, a AC tem sustentado o caráter dialógico e que ocorre com no mínimo dois indivíduos. Segundo Marcuschi as características básicas da conversação são “interação entre pelo menos dois falantes, ocorrência de pelo menos uma troca de falantes, presença de uma sequência de ações coordenadas, execução numa identidade temporal e envolvimento ‘numa interação centrada” (idem, p.15). Isso implica que para haver a conversação é necessário que haja uma organização e, automaticamente, haverá uma metodologia a seguir quando se quer analisá-la. A preocupação da AC esta voltada para a investigação conjunta das práticas conversacionais entre os interlocutores não só em sua essência linguística, mas também (principalmente pós década de 70, paralinguística). Sendo assim e de uma forma geral a AC esta preocupada com a interação no falar humano.

3. ANÁLISE

            Utilizando uma entrevista no programa Jô Soares em que o entrevistador interage com um grupo conhecido como “Os Barbixas”, procurou-se mostrar que, mesmo nos momentos em que parece haver o caos, a conversação ocorre sempre organizada e fundamentada de maneira que, mesmo coma intervenção constante do entrevistador chega-se à resposta desejada. Algumas vezes há a pergunta e no decorrer da pergunta foge-se a resposta voltando a ela logo em seguida. No trecho a seguir o entrevistador pergunta de forma descontraída, pois trata-se de um grupo de humor, o nome dos entrevistados:

J: eles são um grupo de humor que gostam de improvisar eu vou conversar com A. , E e o D. mais conhecidos como OS BARBIXAS.
J: quem é o D., quem é o E.
D:[[ eu sou o D.
E:[[  eu sou o E.
A: (    )
A: eu sou o A., ele é o E.  e   ele é o D.
J:  ann..vamos de novo  um de cada vez pra eu não me confundir... você é o....
E: [E.
E: mas chama do que preferir...
J: mas você só fala com eco?
E: eu....eu....é.
E: é porque aqui eu uno as nossas vozes....minhas segundas vozes
J : [lá na outra ponta o Fu Manchu. o barbinha do Fu Manchu é o...
D: quero (  ), grande ídolo...  
J: ah...legal.. só que é na frente...
J: Você é o D.?
D: eu sou o D.

            Como podemos perceber já no início, ante a pergunta de J. sobre quem é o D. e quem é o E. já ocorre uma “bagunça” entre os entrevistados, pois todos respondem ao mesmo tempo e em tom de brincadeira, mas sempre mantendo o foco na resposta. Se nesse momento chegasse uma pessoa alheia à conversa, provavelmente não entenderia, de imediato, a conversa mesmo ouvindo trechos de nomes. Há uma participação de A. inelegível para logo em seguida retomar o tema e esclarecer para o entrevistador que ele é o A. e o outro que se encontra ao seu lado é o E. Em uma retomada da palavra E. informa para J. quem é o D.
            Ainda sobre a conversação inicial, talvez seja relevante observar que após uma quebra no tema quando J. trata D. como “fu-man-chu”, e aí há a necessidade de que se faça uma entrada enciclopédica, há risadas do público e algumas intervenções de outras pessoas que não participam da conversa o que levaria a imaginar que o tema seria mudado e não haveria retorno a este assunto continuando no novo tema introduzido ou deste para outro e assim sucessivamente, mas não é o que acontece pois, J. retorna ao assunto e pergunta para D. se ele é o D.  recebendo, logo em seguida a confirmação e chegando, finalmente a todas as respostas necessárias a qual tinha interesse.
            Os marcadores conversacionais estão presentes principalmente na fala de J. que se utiliza do “hamm....” com frequência provavelmente para retomar o tema ou pensar com clareza na próxima pergunta.
            Os turnos da fala se dão sem uma organização de sequência embora enquanto há uma produção de um falante os outros apenas intervém concomitantemente, mas não dominam permitindo que haja uma conclusão por quem foi indicado a falar. Convém lembrar que a conversação em questão é feita de maneira informal e que não existe uma regra podendo o locutor tomar a palavra sem que ela lhe seja dirigida.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS



            Ao observarmos os dados fornecidos na conversação analisada percebemos que embora pareça que, em alguns momentos há um caos na conversação e que os participantes que interagem não concluirão a conversa, percebemos logo em seguida, que não é o que ocorre, pois com muitas idas e vindas chega-se ao objetivo desejado pelo entrevistador. Portanto percebe-se que a Conversação não é aleatória e que há uma lógica em seu processo. Também fica claro que os estímulos usados para tornar a conversação mais interagente atingem as mais diversas possibilidades cognitivas para atrair a atenção da audiência e focalizar as intenções do comunicador.
            Também foi possível perceber que a comunicação não se processa somente pelo código, mas que, em muitos momentos ela é pragmática o que é perceptível nas inferências e deduções no nível enciclopédico. No entanto, como se procurou mostrar desde o início, a conversação não ocorre de forma caótica e aleatória, mas  é norteada e segue uma lógica humana das mais complexas envolvendo todo um aparato para que o objetivo conversacional seja atingido.


Referência Bibliográfica
MARCUSCHI, Antônio Luiz. Análise da Conversação. 5ª ed. São Paulo: Ática, 2003.

             

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