sexta-feira, 4 de novembro de 2011

RESENHA - O QUE É EDUCAÇÃO

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 42ªed. São Paulo: Brasiliense, 2003.
O autor é natural do Rio de Janeiro, graduado em psicologia pela PUC e antropólogo com cursos feitos na UNB e USP. Lecionou na UNB e UNICAMP e dedica-se a pesquisas no campo da Antropologia Social.
Suas obras englobam: Os Deuses do Povo- Uma introdução às religiões, Diário de Campo- Antropologia como Alegoria, Educação como Cultura, Educação Popular, Identidade e Etnia, entre outras.
A obra de Carlos Rodrigues Brandão aborda, sem esquivar-se dos fatos históricos, principalmente os atinentes a Grécia e Roma, a educação na sociedade atual. Desmistifica a educação realizada somente em sala de aula e a detenção da educação somente por alguns indivíduos pertencentes à elite, pois o autor é categórico em afirmar que a educação existe sobre diversas formas não existindo somente uma educação, mas várias.  
  
 O autor inicia a abordagem a respeito da educação, argumentando no primeiro capítulo, Educação? Educações: aprender com o índio (p. 9-12), que em nenhum lugar dá para escapar da educação, pois há uma mistura entre vida e educação. Há um constante ensinar e aprender e a educação encontram-se entre o povo. Logo em seguida insere o trecho de uma carta enviada pelos governantes americanos aos índios que habitavam a região da Virginia e Maryland sugerindo que enviassem os seus jovens para aprender na escola dos brancos. Houve por parte dos índios uma recusa educada e uma justificativa pautada em uma experiência já vivida pelos índios que não lhes pareceu adequada. Diante disso o autor afirma  que não há uma única educação e nem apenas um modelo de educação e  a escola não é o único lugar e, talvez nem seja o melhor para que ocorra a educação.
No segundo capítulo, Quando a escola é a aldeia (p.13-26), Brandão sustenta que se aprende de dentro para fora e de fora para dentro por meio da observação dos demais que se encontram ao redor. Portanto não é necessário que haja escola, pois onde houver o ser humano haverá interação humana e, portanto o aprender e o ensinar estarão presentes. É o caso, por exemplo, dos índios pesquisados por antropólogos que identificam processos sociais de aprendizagem em que não há uma situação propriamente escolar, mas que de qualquer forma esta sendo passado o saber tribal a todos que fazem parte da tribo. Desta forma constata-se, segundo o autor, que em todo grupo humano existe algum modo de ensinar. Mesmo naqueles onde não se criaram escolas.
Ao abordar o terceiro capitulo, Então, surge a escola (p. 27-35), o autor aborda a questão dicotômica em que pode se tornar a escola quando o poder que reproduz a ordem são divididos e surgem as hierarquias sociais. O saber, então, passa a ter categorias e é dividido entre essas categorias (rei, sacerdote...), além de considerarem-se também questões como idade e sexo. No entanto ainda não se tem o saber advindo do mundo escolar, mas este pode vir de todos os pontos da comunidade. Isto ocorre por não haver um Estado, mas como ocorre com todas as outras práticas sociais ocorre o interesse politico também na educação o que gera a necessidade de controle. O autor conclui o capítulo informando que a educação existe entre nós na forma que existia na Grécia e Roma e que, talvez, advenha daquela época e daqueles povos muitas respostas às perguntas sobre educação.
O capítulo quarto, Pedagogos, mestres-escola e sofistas (p.36-47), traz a baila a questão do aprender como forma de fidelidade à polis, afirmando que esta educação grega é dupla ocorrendo a oposição que até hoje existe, ou seja, a tecne que é mais rustica e menos nobre e a teoria exercida pelos mais nobres. Segundo o autor a primeira educação grega era livre e era direcionada ao exercício coletivo da vida só ocorrendo à separação quando a riqueza criou a separação entre plebeus e nobres. Brandão afirma que os pobres não podiam frequentar uma escola, pois não tinham condições financeiras para pagar um professor e o escravo nem cogitava tal possibilidade aprendendo o saber fora da escola. Já os nobres vão em direção à teoria para se tornarem adultos educados, pois tem riqueza para tal. Quanto aos filósofos sofistas, estes democratizam o ensino tornando-o remunerado e, neste caso acessível a todos os que podem pagar.
Carlos Henrique Brandão aborda no capitulo quinto, A educação que Roma fez, e o que ela ensina (p. 48-53), a questão do envolvimento do pai e a mãe no ensino da criança afirmando que em Roma os responsáveis pela educação da criança eram os pais, pois o modelo ideal era o ancestral da família vindo em segundo lugar a comunidade. Há, neste capitulo, um paralelo entre a educação romana e a grega e a afirmação de que o mestre-pedagogo acompanha a criança em seu aprendizado o que vai gerar uma oposição entre o ensino dos pais e dos mestres-pedagogos, pois o ensino passa da esfera camponesa para uma formação guerreira exigência da nobreza romana. O autor conclui afirmando que a educação romana vai inovar criando o ensino elementar das primeiras letras antes do século IV A.C, o secundário na metade do século III A.C. e uma espécie de ensino superior no século I, sendo que só depois do advento do Cristianismo é que surge a escola pública mantida pelos cofres públicos. Este tipo de educação, segundo o autor, é a que mantém-se até os dias de hoje.
No capitulo sexto, Educação: isto e aquilo, e o contrário de tudo (p. 54-60), Brandão inicia mencionando algumas definições de educação que constam em dicionários para concluir que cada definição pende para um lado e que até mesmo nos artigos constantes na lei (na época mencionada o governo era militar) ela é tão somente uma educação idealizada. Menciona a UNE, que por meio de um grupo de estudantes candidatos à direção do órgão, fazem um discurso de protesto contra a expansão do ensino privado e a falta de comprometimento do Estado para com o ensino público. O autor conclui este capítulo afirmando que a educação serve a classes sociais definidas e determinadas e não à Nação, ou seja, aos brasileiros.
O capítulo sétimo, Pessoas “versus” sociedade: um dilema que oculta outros (p. 61-72), Brandão inicia fazendo uma observação sobre educação, escola e ensino que, segundo ele é misturado quando se tenta explicar cada uma destas nomenclaturas. Após citar que, de acordo com as ideias de alguns filósofos e educadores, a educação é oferecida para que o ser humano atinja todo o seu desenvolvimento o autor cita algumas definições de filósofos para afirmar que a educação deve ter como finalidade atender as necessidades do coletivo e que a educação sofre maneiras diferentes de ser ensinada de acordo com a cultura e o momento histórico. Conclui afirmando que há diversas maneiras de se entender a educação e que esta é apenas uma delas. A educação funciona segundo Brandão de acordo com as exigências, princípios e controles sociais.
Ao explanar o capítulo oitavo, Sociedade contra estado: classe e educação (p. 73-97), o autor inicia por afirmar que a educação é uma prática social e que afirmar ser ela pura pode esconder um interesse político de usá-la como controle. A educação, segundo Brandão, não é de uma única pessoa, mas sim atua sobre a vida da sociedade e atua para o seu crescimento. Afirma também que é necessário que haja uma constante reciclagem de conhecimentos, pois o mundo esta em constante mudança. O autor afirma que nas primeiras décadas deste século começou-se a pensar uma educação mais dirigida à vida de todos, ricos ou pobres, o que fez com que o governo criasse as escolas gratuitas. A criação das escolas gratuitas, no entanto não fez com que diminuísse a dicotomia entre os que são educados para dominar e os educados para serem subalternos. A educação continuava a seguir o mesmo padrão Greco-romano a qual sempre esteve atrelada. O autor conclui este capítulo afirmando que em qualquer ordem social vigente quanto mais a educação é autoritária e classista mais tenta-se passá-la como democrática, legitima e humana. No entanto, apesar de afirmar a democracia na educação na prática isso não ocorre, pois também na educação o fosso da desigualdade é cada vez maior.
No capítulo nono, A esperança na educação (p. 98-110), o autor inicia perguntando por que participar de uma educação que é criada e controlada por um sistema político dominante e que nada mais faz a não ser reproduzir a desigualdade? E logo em seguida afirma que isto é necessário por ser a educação inevitável, transformadora (podendo neste caso ser usada para criar a igualdade) e que pode construir um novo tipo de mundo. Afirma que a educação existe em toda parte e que pertence a todos. Somente quando a educação aparece como propriedade é que passa a haver o controle e a educação é usada como instrumento político de poder. Segundo o autor onde há interesses divergentes há educações desiguais, mas as comunidades também reagem à sua maneira e criam alguma coisa de sua. Reivindicam seus direitos ignorados pelo governo. Criam sua própria aprendizagem popular e têm seus próprios mestres que surgem vindos do povo. Enquanto os professores tradicionais e os tecnocratas da pedagogia nada percebem não vêem este movimentar-se do povo. O autor afirma, então, à guisa de conclusão, que só o educador “deseducado” do saber que existe no homem poderia ver educação no ensino escolar enquanto na verdade ela existe solta entre todos.   
O autor abordar a questão da educação de forma inovadora procurando explicar os problemas educacionais de forma diacrônica levando em consideração tanto a parte social quanto a política e econômica como fica delineado na página 59 quando o autor afirma que “Não há apenas ideias opostas ou ideias diferentes a respeito da educação, sua essência e seus fins. Há interesses econômicos e políticos que se projetam também sobre a educação.” No entanto “não se deve perder de vista que as experiências educativas não são adaptadas, mas construídas” (NEGRÃO, 2002) e que por este motivo não há como impor uma forma de educação sobre um povo, pois este a moldara de acordo com as suas necessidades e fins. Tentar impor, por exemplo, uma educação elitista sobre uma população que não têm facilidade em frequentar uma escola e que ao fazê-lo é a duras penas é, já de inicio, marginalizá-la e lançá-la ao fracasso dentro das metas elitistas. Deve-se, portanto buscar oferecer ao povo uma educação que reflita a realidade do povo que a frequenta respeitando as diferenças. O autor acerta quando afirma não existir somente uma educação, mas educações e que estas ocorrem de várias maneiras e em todos os lugares. A linguagem acessível é outro fator positivo para que todos que não estão familiarizados com o tema possam entendê-lo. Enfim, de maneira leve e não maçante o autor consegue fazer-se entender e trazer uma nova perspectiva sobre a educação.
A obra é indicada para educadores, estudantes e pesquisadores que procuram entender o processo educacional histórico e atual nas sociedades, além de trazer uma nova perspectiva sobre a educação.

Referência:
NEGRÃO, Sonia Maria Vieira. O Trabalhador Linguístico: Percurso de uma experiência com educação de adultos. Maringá: Eduem, 2002.Educação- Carlos Henrique Brandão

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