sábado, 23 de julho de 2011

DEIXE-ME VOAR..."Rubem Alves

 
Um texto maravilhoso de alguém sensível:
"Deixem-me voar..." - RUBEM ALVES - Eu, por enquanto, não quero morrer. Já tive medo. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza

DONA CLARA ERA uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas que pena! A vida é tão boa..."
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?" Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade, porque lá a gente fica longe dessa terra tão boa...Eu, por enquanto, não quero morrer. Já tive medo de morrer. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza.Mas tenho muito medo DO morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo contra a minha vontade -sem que eu nada possa fazer porque já não sou mais dono de mim mesmo-, solidão -ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte-, medo de que a passagem seja demorada.A morte deveria ser como os últimos compassos de uma sonata: belos e tristes, até que venha o silêncio. Camus dizia que o suicida prepara seu suicídio como uma obra de arte. Seria possível planejar a própria morte, sem suicídio, como uma obra de arte? Mas quem, nos hospitais, se preocupa com a beleza?Zorba morreu olhando para as montanhas. Uma amiga me disse que quer morrer olhando para o mar. Montanhas e mar: haverá metáforas mais belas para o Grande Mistério?Mas a medicina não entende.
Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos para que meu pai não sofra?" O médico o olhou com olhar severo e lhe disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?" Impecável o médico, na sua severidade ética e religiosa. Enquanto sua consciência permanecia calma, o velhinho estava mergulhado num abismo de dor.Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama, em meio aos fedores de fezes e urina de repente o acontecimento desejado, libertador: seu coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda que assim punha um fim à sua miséria! Aquela parada cardíaca era o último acorde da sonata alegre que fora a sua vida! Mas o médico, movido pelos automatismos éticos costumeiros, apressou-se a cumprir o seu dever: debruçou-se sobre o velhinho morto e o fez viver de novo.
Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Mas o que é vida? Mais precisamente: o que é vida de um ser humano? Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a chance de sentir alegria ou gozar a beleza o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.Muitos dos "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, no meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, a ouviriam dizer: "Sou um pássaro engaiolado. Abram a porta! Deixem-me voar livre pelos ares!"

domingo, 17 de julho de 2011

SONETO

 
As vezes descobrimos pessoas maravilhosas que nos ensinam a ser mais humanos. Nos ensinam a amar mais e a viver a vida com alegria constante pois só em estar vivos já é motivo para nos alegrarmos. Como é bom ler as poesias de Mário Quintana! Quanta beleza em seus poemas!! Vejam por exemplo o poema que segue:


Na minha rua há um menino doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
junto à janela, sonhadoramente,
Ele houve o sapateiro bater sola.


Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.


Ele trabalha silenciosamente...
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente...




Escritores assim são realmente imortais.

sábado, 16 de julho de 2011

A TELEVISÃO BRASILEIRA

                                          http:edson-letraspreciosas.blogspot.com

A televisão brasileira não forma e nem informa, mas deforma o cidadão. Não há interesse nos programas informativos em trazer informações úteis e necessárias ao cidadão, mas em aumentar e manter a audiência. Desta forma têm-se cidadãos alienados e pobres em argumentos, facilmente manipuláveis.
Muitas vezes a massa populacional não tem meios de se informar através dos jornais escritos, pois aquele um ou dois reais que terá desembolsado para pagar o jornal faltará na hora do cafezinho ou mesmo na passagem a pagar quando retornar para sua casa após o trabalho. Então o que fazer para se tornar informado? A solução encontrada por muitos esta em assistir aos telejornais e o fazem crendo que terão as noticias com toda a sua verdade e na íntegra. No entanto não é isso que acontece, pois não são colocadas diante do telespectador noticias que de fato lhe serão úteis ou necessárias, mas noticias parciais e que somente interessam à empresa televisiva interessada em aumentar a audiência.
Nessa ânsia de obter maiores lucros as empresas televisivas não respeitam o cidadão interessando-se tão somente em chegar à frente na guerra televisiva. É assim, por exemplo, quando há uma transmissão sobre uma greve e no tumulto ocorre uma briga entre alguns manifestantes e a polícia. A emissora, ao perceber que mostrando o conflito da polícia com os manifestantes a audiência aumenta, não explica com precisão os motivos da greve ou as condições da classe que a faz. O cidadão vê somente uma parte da noticia e não a íntegra da noticia.
Nas transmissões políticas a parcialidade também é flagrante, pois não são poucas as vezes que a emissora se posiciona ao lado de determinado político e o maquia de acordo com o gosto popular camuflando seus defeitos e erros anteriores conseguindo com isso que seja eleito para, no futuro, lavar as mãos quando este mesmo político não corresponder ao esperado. Fica fácil para quem se debruça sobre o assunto perceber que a televisão brasileira manipula a maioria dos telespectadores alienando-os através de informações parciais, muitas vezes hiperbolizadas para atrair a atenção outras vezes com eufemismos para esconder um fato de grande repercussão e que causa grande indignação tudo de acordo com as necessidades da emissora.
Quanto ao cidadão pensa estar informado e que é conhecedor do que ocorre ao seu redor, mas sem conseguir ler nas entrelinhas, torna-se massa de manobra nas mãos de indivíduos sem escrúpulos, permanece alienado sem argumentos quando questionado e com a sensação de que nada sabe nem lhe foi explicado.